O início de um novo ano no mundo do design é sempre marcado por uma grande expectativa: a revelação da “cor do ano”. Pantone, Sherwin-Williams, Coral, Suvinil… todas as grandes marcas apresentam suas apostas, e o mercado se agita com entusiasmo.
Mas o que o leque de cores de 2026 nos diz, nas entrelinhas, é algo muito mais profundo e libertador: o poder de ser autêntico nunca esteve tão em alta.
Antigamente, tínhamos uma única cor, ditada pela Pantone, que parecia reger todas as regras do design e da moda. Era um consenso global, uma diretriz que nos guiava. Hoje, o cenário é radicalmente outro. Cada marca lança a sua própria tendência, criando um mosaico de possibilidades que, à primeira vista, parece democrático e inclusivo.
Mas, do meu ponto de vista, isso é muito mais um reflexo comercial do que uma unanimidade de sentimento ou necessidade global. Afinal, como podemos todos, simultaneamente, sentir a necessidade de um branco etéreo e de um verde-amarelado vibrante? Como um mesmo ano pode pedir, ao mesmo tempo, calma absoluta e transformação radical?
O Dilema das Tendências:
Entre o Conforto e a Frieza
É inegável que vivemos em um mundo hiperconectado, acelerado, demandante. A busca por um refúgio, por um momento de relaxamento, é uma necessidade real e urgente.
Nesse contexto, o Cloud Dancer da Pantone, um branco leve e sutil, surge como uma promessa de paz. Mas, o branco pode ser tão frio, tão sem sentimentos… Ele acalma, sim, mas será que acolhe? Será que conta a nossa história? Será que nos faz sentir em casa?
Na mesma linha, tons com base cinza, como o Tempestade da Suvinil, podem transformar os espaços em ambientes muito introspectivos. São cores que nos convidam a olhar para dentro, o que é maravilhoso e necessário, mas que, em excesso, podem nos isolar do mundo exterior. Há uma beleza nessa introspecção, mas também um risco: o de nos perdermos em nós mesmos.
Enquanto isso, o Azul Puro da Coral e o Transformative Teal do Colorô nos chamam para fora, para a ação, para a mudança. São cores que respiram, que se expandem, que nos convidam a dançar. Cada uma dessas cores conta uma história diferente, oferece uma experiência sensorial distinta. E é exatamente por isso que nenhuma delas pode ser “a” cor do ano para todos.
A Verdadeira Tendência é a Sua Verdade
Se cada marca aponta para uma direção diferente, isso significa que não há um caminho único a ser seguido. A verdadeira tendência, o verdadeiro insight que podemos tirar de tudo isso, é a importância de sermos autênticos e de entendermos profundamente o que faz bem para nós.
Seguir o fluxo do mundo, adotar a cor do momento sem questionar, pode até deixar a sua casa “na moda”, mas não necessariamente a tornará um lar feliz, um refúgio que reflete a sua alma. A sua casa precisa ser o seu lugar preferido no mundo, um espaço que conta a sua história, que acolhe as suas memórias, que celebra os seus momentos mais preciosos e que te permite ser quem você é, na sua plenitude.
Porque, no final das contas, a casa com alma nos permite ser quem somos. Ela é o lugar onde relaxamos sem culpa, onde nos sentimos verdadeiramente acolhidos, onde cada objeto, cada cor, cada textura tem um significado. Não é sobre estar na moda. É sobre estar em casa.
Portanto, antes de sair correndo para pintar uma parede de “Cloud Dancer” ou “Azul Puro”, pause. Respire. E se faça essas perguntas:
O que eu quero sentir no meu espaço?
Que cores me trazem alegria, calma, energia?
O que faz sentido para a minha história e para o meu momento de vida?
Qual é o ritmo que eu quero dançar dentro da minha casa?
A resposta para essas perguntas é a sua cor do ano. E ela pode não estar em nenhuma paleta de tendências. Pode ser um tom que você descobriu em uma viagem, uma cor que remete a uma memória querida, um matiz que simplesmente faz seu coração bater mais rápido. E quer saber? Isso é maravilhoso.
Porque a sua casa, assim como você, não precisa seguir regras. Ela precisa, apenas, ser verdadeira. Ela precisa contar a sua história. E quando ela faz isso, quando você entra nela e sente aquele aconchego profundo, aquela sensação de “aqui é meu lugar no mundo”… bem, aí sim você encontrou a cor do ano. A sua cor. A cor que importa.

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