Visitar a CASACOR sempre foi, para mim, um ritual inspirador. Mais do que observar tendências, é um momento de imersão, onde se descobre muito sobre o novo morar, se entende o comportamento do agora e, principalmente, se sente texturas, aromas, luzes e sabores. Como designer especializada em casas de férias, costumo ir em busca de texturas que contam histórias, aromas que despertam lembranças, cores que acolhem e sabores que celebram encontros.
Neste ano, no entanto, saí da mostra com impressões mais contidas. A casa esse ano estava super compacta. Eu visitei o espaço antes do início das obras e, por isso, pude ver de perto o milagre arquitetônico. A forma como os profissionais reinterpretaram o imóvel foi admirável. Mas quando falamos de interiores, senti que, em muitos ambientes, o excesso ocupou o lugar da intenção.

o espaço que mais me tocou foi o Living Essências, assinado por Maria Alice Crippa e Gustavo Assis. Foi o único ambiente em que eu, de fato, desejei permanecer. A paleta suave, os materiais naturais, as luzes estratégicas… tudo estava em equilíbrio. Um convite ao descanso, à contemplação. Me senti ali como desejo que meus clientes se sintam em suas casas de campo ou de praia: acolhidos, conectados e em casa.

Embora minha conexão emocional tenha se firmado no Living Essências, é justo dizer que alguns elementos isolados em outros ambientes também me chamaram a atenção. Pequenos gestos de criatividade e soluções que, mesmo imersas em propostas que não dialogaram plenamente comigo, trouxeram frescor e provocaram boas ideias.

Um ambiente que me chamou atenção, foi o Quarto Tekoá, assinado por Diego Miranda Leite e Zeh Pantarolli. A escolha de revestir paredes e teto com porcelanato é ousada e isso, por si só, já merece reconhecimento. Gosto da coragem dos meninos em pensar fora do óbvio, em explorar materiais pouco convencionais para ambientes íntimos. Ainda assim, confesso que a frieza do material tirou um pouco do aconchego que espero de um quarto, especialmente em propostas que visam bem-estar e introspecção. Mas havia beleza ali. A estética era bem resolvida, e o detalhe do espelhos ao redor do armário, criou um efeito flutuante que eu adorei.


No espaço assinado por Mariana Andrade e Raissa Lamy, a ambientação estava impecavelmente resolvida. Havia narrativa, havia cena. Um livro deixado aberto, um charuto queimado, um copo de uísque repousando sobre a mesa. Eram pistas sutis, porém que nos levavam a imaginar personagens e histórias ali dentro. E mesmo não sendo o meu estilo de projeto, eu adorei. Me lembrou, inclusive, a sofisticação cênica das apresentações da Dimore Studio com a Loro Piana Interiors, em Milão.
Uma pena, no entanto, que não havia ninguém ali para nos receber. A ausência de uma recepcionista tem sido algo constante nos ambientes da Casacor, ou quando tem, não são treinadas para envovler o visitante com o espaço. Senti falta de entender o conceito por trás desse projeto, e isso, para mim, é uma falha que compromete parte da experiência.


O projeto da Gabriela Casagrande me despertou curiosidade. Seu espaço era um loft cápsula, super tecnológico e com uma proposta sustentável ousada. Logo na entrada, fui recebida pela equipe da empresa responsável pela estrutura, que explicou com entusiasmo os bastidores da criação: uma cápsula de 18 m², completamente mobiliada, pronta em até 60 dias e com valor médio de 300 mil reais. Um novo modelo de morar que levanta perguntas interessantes principalmente quando pensamos em um futuro mais leve, nômade e conectado com o essencial. Confesso que aquilo me fez imaginar possibilidades. E se a casa de férias do futuro não fosse mais um lugar fixo, mas sim um casulo que nos acompanha? Já pensou em poder viver uma temporada à beira-mar e, meses depois, estar com a mesma estrutura no campo, cercado pelo verde? Para quem já passou pelos grandes compromissos da vida e busca agora apenas desfrutar, pode ser uma solução encantadora.
Encerro dizendo que sempre enxerguei a CASACOR como um espaço de encontros. Um lugar para tomar um drink no fim do dia, jantar em boa companhia, trocar ideias, viver o design em sua forma mais sensorial. Mas nesta edição, mesmo com a estrutura disponível, a atmosfera simplesmente não me envolveu. Pela primeira vez, escolhi não jantar lá.
Essa ausência me levou a uma reflexão mais profunda sobre o papel do designer hoje. Mais do que criar ambientes bonitos, é preciso criar atmosferas que estabelecem vínculos. Casas que acolhem os sentidos, que organizam o caos da rotina, que conectam memórias com significado. É isso que busco nos projetos que assino: criar casas de férias que não sejam apenas funcionais e esteticamente agradáveis mas que abriguem vivências reais e momentos que ficam.
Talvez esse distanciamento com a mostra revele algo maior: a urgência de voltarmos a projetar com mais intenção. De tirarmos o foco apenas da imagem e voltarmos para a experiência. De resgatar o essencial, o conforto, a beleza que acolhe, a simplicidade que emociona sem precisar se impor.
Saí de lá com menos fotos no celular, mas com uma certeza ainda mais clara projetar é cuidar.
É permitir que alguém se reconheça em um espaço, é criar cenários onde a vida acontece com leveza, afeto e propósito.
Porque no fim das contas, o que me move é justamente isso:
transformar o morar em um convite para viver férias todos os dias.
Agradecimento especial para ABC da Construção, filiar Guaratuba I PR que nos presenteou com os convites dessa edição.

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